A expressão “Supertoscano” é amplamente usada na atualidade.  Mas afinal, qual o seu significado?

O termo faz referência aos vinhos produzidos na tradicional região italiana Toscana que não se enquadram em nenhuma das denominações de origem tradicionais locais como Chianti, Brunello di Montalcino ou Vino Nobile de Montepulciano. 

Na região onde a uva Sangiovese é a mais plantada, certos viticultores decidiram cultivar variedades internacionais, a maioria delas de origem francesa – como Cabernet Sauvignon, Merlot e Syrah – usando outros métodos de cultivo, com rendimentos mais baixos por hectare e processos modernos de vinificação, como o envelhecimento em barricas novas de carvalho francês ao invés de grandes tonéis e a mistura de Sangiovese com uvas francesas em um vinho. Em alguns casos, a Sangiovese sequer está presente.

O pioneiro na adoção destas práticas foi Pietro Antinori, no início dos anos 1970,  na busca por melhorar a qualidade dos vinhos Toscanos considerados simples e irregulares, sobretudo na famosa e ampla região do Chianti. Foi ali que ele resolveu plantar as primeiras parreiras de Cabernet Sauvignon, a contragosto dos tradicionalistas viticultores italianos.

Antinori, ao extrapolar as regras das denominações de origem clássicas toscanas, teve seu vinho rotulado na escala mais baixa de status do vinho italiano: o vinho de mesa ou “vino de távola”.

No entanto, os vinhos de mesa produzidos por Antinori e outros viticultores que seguiram seu caminho foram muito bem recebidos pela crítica internacional, sendo por diversas vezes aclamados com altas pontuações e escolhidos como melhor vinho do ano por revistas especializadas inglesa (Decanter) e norte-americana (Wine Spectator).

Rótulos como Sassicaia, Solaia e Ornellaia, tornaram-se ícones da região e passaram a ser chamados de Supertoscanos, elevando a reputação de uma região que carecia de prestígio. Tamanha a repercussão alcançada por esses vinhos, a revolução tomou corpo e outros produtores passaram a cultivar variedades não tradicionais e a produzir vinhos de estilo mais moderno, tomando emprestado o termo “Supertoscano”, uma palavra mágica que imediatamente elevava os vinhos a uma categoria superior.

O governo italiano, ao observar o crescimento da área plantada de variedades estrangeiras decidiu contemplá-las legalmente, e estabeleceu que todo vinho toscano onde não predomine a Sangiovese passaria a ser classificado como um vinho de Indicação Geográfica Típica Toscana, ao invés de mero vinho de mesa.

Na metade da década de 1990, a legislação italiana cedeu ainda mais ao criar por decreto uma nova denominação de origem – Bolgheri –  quase que exclusivamente ao exitoso produtor Sassicaia.

Atualmente é comum encontramos no portfólio de vinícolas de Chianti a sua versão de vinho “Supertoscano”. Vinhos que costumam ser potentes, tânicos, com intensidade de fruta e madeira quando jovens. Muitos exemplares de ótima qualidade. Mas deguste-os com cautela. Nem todo vinho merece ser chamado de Supertoscano. O termo tem sido usado de maneira exaustiva e aleatória como estratégia de marketing e aumento do preço de venda da bebida.

Fotos: Divulgação


Wagner Gabardo

Professor há mais de dez anos, dita cursos e palestras em cidades do Nordeste, Sudeste e Sul do Brasil. Mestrando em Turismo pela UFPR onde pesquisa Enoturismo, é Especialista em Enologia e Viticultura pela UTP-Brasil e Tecnólogo em Sommelerie pelo CAVE, Argentina.

Comentar

Seu comentário
Digite seu nome