Há muito que as mulheres se reúnem para tricotar e fazerem o seu crochet. Aliás, este sempre foi um momento mágico para o universo feminino. Reuniões onde mãos delicadas tecem peças lindas, elaboradas cuidadosamente para o usuário ou para aquela ocasião especial ou ainda para destacar aquele móvel.

Daí surgiu uma ideia linda da enóloga Susana Esteban, unir-se a uma amiga para fazerem crochet e tricot.  A escolhida foi Sandra Tavares, outra enóloga artesã de primeira qualidade, que já atuava no Douro. Deste encontro surgiu em 2011 o Crochet.

Este vinho duriense feito a quatro mãos é bem o resultado de algo realizado em momentos de conversas femininas onde se tece lentamente a cada ponto, a cada nó, uma peça de artesanato única.

Crochet começou ganhando prêmios pelo rótulo.  Ganhou em 2014 o Pentawards – Worldwide Design Packaging Competition, como disse Jorge Lucki – o Oscar do design de packaging. Em 2016, a safra 2014 do Crochet fez dele um dos melhores vinhos da Revista Wine. O vinho é um corte de Touriga Franca e Touriga Nacional. Via de regra, 60% a 40%.  A produção é na ordem de 3300 a 3800 garrafas, dependendo da safra. Vindima manual, passa 18 meses em carvalho francês, 40% novas e 60% de segundo uso.

Provei a safra 2013 e amei este vinho. Encorpado, com taninos muitíssimo equilibrados. Aliás, foi o que mais me chamou atenção, a equação corpo X tanino tão bem resolvida.

O Tricot, surgiu em 2014, direto do Alentejo, melhor dizendo, produzido em Mora.  O vinho é composto de 50% de vinhas velhas da Serra de São Mamede e 50% de Touriga Nacional.  Colheita Manual e passa 18 meses em barricas de carvalho francês sendo 30% em novas e 70% em barricas usadas.  O número de garrafas produzidas também é na ordem de 3200. O teor de álcool nele é mais baixo – 13,5% contra os 14,5% do seu parceiro Crochet.

Para mim, o fato do vinho aqui ter uma graduação alcoólica mais baixa, já me encanta.  Ser elaborado com vinhas velhas então, é tudo aquilo que meu paladar ama.

É que quando se tem um vinho elaborado com vinhas velhas, ao se colocar ele na boca, você sente que é diferente. É como se estivéssemos degustando todas as castas juntas. Aos poucos começamos a distinguir uma a uma sem saber exatamente se estamos certos ou não. Isso se chama complexidade.

Creio que este vinho ainda irá surpreender e ganhar algumas medalhas pelo mundo afora. Dada esta complexidade das vinhas velhas, vou deixar a segunda garrafa adquirida para ser degustada em 2020.

De forma figurada, o Tricot já está lindo. É uma peça que não pode faltar no seu guarda roupa – ou melhor – na sua adega. Apenas acho que se usarmos ele naqueles invernos mais rigorosos, veremos que ele é mais do que bonito, ele é a peça que efetivamente nos aquece.

Fotos: Divulgação


Meriane Sander

Meriane Sander é advogada e depois de 20 anos dedicados à carreira jurídica, decidiu se aperfeiçoar e seguir carreira de sommelier. “Este universo é tão fascinante e complexo, nunca paramos de estudar. A grande vantagem é que nosso material de estudos é extremamente prazeroso e extenso”, comenta Meriane.

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