As paixões desse franco-ítalo-brasileiro vão muito além do vinho. O golfe, a vela e carros antigos, preenchem o tempo livre desse paulistano de nascença, filho de uma italiana e um francês. Nesse momento você deve estar se perguntando como François Nony, proprietário dos renomados Château Caronne Ste. Gemme e Château Labat saiu de São Paulo para conquistar terras bordalesas e propagar a qualidade dos grandes vinhos Cru Bourgeois mundo afora. François nasceu em São Paulo quando seu pai veio da Europa para assumir um cargo no Banco Francês Brasileiro. Viveu no Brasil até seus oito anos, quando mudou-se para a Inglaterra após seu pai adoecer e buscar tratamento com especialistas no Reino Unido. Passou grande parte da sua juventude na Grã-Bretanha até que a vida lhe encaminhou para a França, onde após a morte da avó, começou a participar dos negócios da família no ramo vitivinícola.

Mas não foi uma transição imediata, antes de François se dedicar de cabeça para os negócios da família, trabalhou por um bom tempo no ramo de publicidade. Ele criava artigos de couro como bolsas e malas para campanhas publicitárias e foi muito bem sucedido nesse mercado. Mas no final da década de 90 vendeu sua empresa e resolveu se dedicar de vez ao mundo dos vinhos, ajudando o tio no negócio familiar. Em 2002, François assumiu, juntamente com seu irmão, a gestão total da empresa e hoje formam a quarta geração da família a frente da administração.

Mas no final da década de 90 vendeu sua empresa e resolveu se dedicar de vez ao mundo dos vinhos, ajudando o tio no negócio familiar.

Procurando sempre a expressão máxima do terroir e do estilo bordalês, o exigente François diz que ainda caminham para alcançar a perfeição dos seus vinhos. O blend de Cabernet Sauvignon, Merlot e Petit Verdot traduzem toda a história do Château Caronne Ste Gemme, que data desde 1648 e está na família Nony-Borie desde 1900. Para o Château Labat, vinho proveniente de um antigo vinhedo do século XVIII que foi incorporado à propriedade, as uvas Cabernet Sauvignon e Merlot receberam a incumbência de narrar numa taça às características desse terroir. 

E para que pudéssemos entender um pouco mais dessa história, em recente passagem pelo Brasil, François conduziu uma vertical dos vinhos Château Caronne 2000, 2005, 2009, 2012 e 2014.

“Mas são vinho que precisam de mais tempo para ficar ‘prontos’ e esses consumidores não estão dispostos a esperar esse tempo e acabam consumindo os vinhos muito jovens”

As safras 2000, 2005 e 2009 foram ótimas em Bordeaux e percebe-se essa excelência no vinho. A partir de 2005, François assume que adotaram um estilo de vinho mais musculoso, com taninos mais duros, um estilo mais Novo Mundo, no intuito de agradar os críticos e consumidores americanos. “Mas são vinho que precisam de mais tempo para ficar ‘prontos’ e esses consumidores não estão dispostos a esperar esse tempo e acabam consumindo os vinhos muito jovens”, explica François. A safra 2014 está com um bom corpo e ótima acidez, o que permite um bom potencial de guarda. Esta é a única safra disponível no Brasil que chega ao país pela importadora Porto a Porto (R$ 173,90).

 “O estilo bordalês foi roubado pelos americanos, perdeu-se um pouco da sua característica clássica. Fizeram um vinho com muita extração de fruta e tanino para agradar os americanos. Para mim o vinho ideal está no equilíbrio do tanino, fruta e acidez. O tempo doma essas características. Não precisamos mostrar tanta força, elaborar vinhos tão musculosos”, ressalta François Nony.

Sempre um privilégio, poder degustar safras diferentes de um mesmo vinho, percebemos que François não está longe de alcançar seu grande objetivo: o de transmitir a perfeição do seu terroir numa taça.

O ecossistema dos Labat e Caronne foi identificado como um dos mais ricos da região do Médoc, comparado ao do Château Lafite, pela grande presença de espécies ameaçadas. Os vinhedos são verdadeiras “ilhas” de videiras que chegam a 24 metros de profundidade. Esta situação, aliada a outras condições benéficas, faz com que os vinhedos estejam protegidos dos desastres ambientais, incluindo da poluição do entorno. O arado tradicional, a ausência de herbicidas e a abordagem da agricultura integrada são alguns dos diferenciais da elaboração dos vinhos destes Chateaux.

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