O mago dos vinhos brancos Denis Dubourdieu deixou um legado louvável no universo do vinho. Numa merecida homenagem da revista Decanter, foi eleito o Homem do Ano no segmento em 2016, no mesmo ano que faleceu. Dois anos e meio após a sua morte, seu filho Jean Jacques Dubordieu, agora a frente dos negócios da família, nos conta em uma entrevista exclusiva como segue a administração do Denis Dubourdieu Domaines sem o seu notável pai.

VINICOLA – Seu pai foi uma pessoa muito querida no universo do vinho. Deixou um legado respeitável. Como segue a Denis Dubourdieu Domaines sem seu criador?

JEAN JACQUES – Meu pai, Denis, tinha um status muito especial na indústria do vinho. Ele era o professor da Universidade de Bordeaux, era pesquisador, consultor e proprietário de imóveis em grande escala. Felizmente, meu pai me pediu para voltar para o negócio da família em 2006, para a colheita, então, após 11 anos trabalhando com Denis, foi mais fácil continuar o que ele começou há 35 anos. Na verdade, minha família produz vinhos em Bordeaux desde 1794 e possuímos uma propriedade classificada Segundo Cru Classé em 1855, o Château Doisy Daëne, que meu bisavô Georges Dubourdieu comprou em 1924. Então, eu também continuo uma longa tradição familiar.

VINICOLA – Quem segue a frente da empresa?

JEAN JACQUES – Eu sou o gerente geral, estou a frente da empresa. Meu irmão Fabrice também está trabalhando comigo, mas mais focado nos vinhedos e na viticultura.

Jean-Jacques e seu irmão Fabrice

VINICOLA – Quais são os maiores desafios de gerir a empresa sem o seu pai?

JEAN JACQUES – Para ser honesto, o grande desafio é viver sem Denis como filho. Tivemos um relacionamento muito próximo, uma ligação mais forte do que o normal na relação entre pai e filho. Então, sua partida tão precoce é sempre muito difícil de superar. Falando sobre a empresa e o negócio, meu pai fez as coisas da maneira certa, me treinando e capacitando desde que eu era criança para uma transição tranquila. A empresa tem muitos projetos e investimentos para acontecer. As vendas estão indo muito bem, conquistamos uma virada histórica em 2017.

O maior desafio foi antes da morte de Denis, alcançar qualidade, inovação, identidade, proteção ambiental e sustentabilidade. Hoje, nosso objetivo é exatamente o mesmo.

Para ser honesto, o grande desafio é viver sem Denis como filho.

VINICOLA – Qual foi a maior lição que seu pai deixou para você?

JEAN JACQUES – Que há mais para aprender com a curiosidade do que com a certeza. Nosso trabalho é uma constante observação e melhoria. Se perdermos a curiosidade, perdemos oportunidades de sentir a diversidade de fatores em nosso trabalho e fazer vinhos mais precisos e interessantes.

VINICOLA – Quando foi que percebeu que a sua vida seria na indústria do vinho?

JEAN JACQUES – Desde o início! Cresci em Château Reynon, fiz o meu primeiro vinho aos 12 anos. Foi em 1993 e o vinho ainda está em forma.

Meu pai me deixou livre para trabalhar em muitos lugares antes de voltar pra casa. Trabalhei na Espanha, Nova York, em Paris. Mas para ser honesto, não me imagino fazendo nada além de fazer vinho.

VINICOLA – Podemos esperar uma proposta mais moderna nos novos vinhos da vinícola?

JEAN JACQUES – A modernidade na produção de vinhos é, em primeiro lugar, evitar o padrão e melhorar a precisão e a identidade.

Podemos mudar o rótulo, o discurso, a garrafa, mas o principal é sobre o sabor.

Então, um vinho novo em nossa vinícola é um vinho melhor do que no ano passado. Quando você planta uma vinha por 50 anos, você mudará o blend todos os anos.

VINICOLA – Como você vê o mercado de vinho futuro em Bordeaux? Sempre haverá lugar para os clássicos ou é necessário inovar?

JEAN JACQUES – A inovação na produção de vinho é permanente, data 8.000 anos, quando o homem começou a produzir vinho na Geórgia. A inovação é o coração da produção de vinho há séculos. O único futuro possível para a produção de vinho é a identidade e a tipicidade. Enquanto um vinho tiver personalidade suficiente, que representa seu terroir e variedades de uvas, não haverá problema em relação às vendas. Pelo contrário, quando não há um estilo específico, o vinho torna-se uma matéria-prima em um negócio de commoditiy, onde apenas o preço e talvez o merchandising seja o assunto. Não acredito nesse tipo de viticultura a longo prazo. Nesse caso, em Bordeaux, não há necessidade de incitar a inovação. Pra mim, a proteção e evolução do vinhedo é a prioridade.

Enquanto um vinho tiver personalidade suficiente, que representa seu terroir e variedades de uvas, não haverá problema em relação às vendas.

VINICOLA – As mudanças climáticas vão interferir na maneira de produção atual?

JEAN JACQUES – As mudanças climáticas são um grande problema na nossa área. Primeiro, a irrigação em países secos se tornará cada vez mais difícil. Eu realmente acredito que o mapa vitivinícola mudará na direção das regiões onde há mais incidências de chuvas.

Em Bordeaux, podemos alcançar a marca de 900mm de chuva por ano, a seca não é uma ameaça para nós. Mas as mudanças climáticas podem aumentar as geadas e as chuvas em momentos errados. Teremos que enfrentar as condições climáticas mais violentas.

Mas, ao mesmo tempo, se aproveitarmos essas alterações do clima para um consumo de energia sustentável planejado, penso que as mudanças climáticas podem também ser positivas para uma mudança na direção da sustentabilidade.

VINICOLA – O que é a Bordeaux Oxygène?

JEAN JACQUES – BO2 é um grupo de 18 jovens amigos, produtores de vinhos em Bordeaux, todos muito envolvidos e engajados em seus negócios familiares. Organizamos juntos eventos em todo o mundo (Japão, Reino Unido, EUA, Vietnã, Camboja) mostrando uma face jovem e elegante de Bordeaux, promovendo a diversidade dos nossos vinhos em termos de apelação e preços. Estes eventos são muito bem sucedidos, geralmente bem informais, mostrando uma maneira muito moderna de consumo. Nós limitamos essa associação a 18 membros para manter um ambiente amigável e sincero.

VINICOLA – Alguma novidade da Denis Dubourdieu Domaines para este ano?

JEAN JACQUES – As novidades na nossa empresa são para longo prazo. Temos uma vinícola nova em Clos Floridene (independente em eletricidade) e também renovamos, ao lado da adega, uma casa de hóspedes com quatro quartos.

Em Château Doisy Daëne estamos com uma nova loja, novos escritórios e também com um novo armazém.

Teremos também, em breve, um vinho novo o Etoiles de Doisy Daëne, um vinho doce mais acessível, fresco e fácil de educar os jovens para os vinhos botritizados.

As outras novidades são como disse anteriormente, fazer um vinho melhor a cada ano, a cada safra. Considerando todos os fatores técnicos que influenciam o gosto, o conhecimento e a curiosidade, assim teremos sempre a melhor novidade!

** Entrevista concedida com exclusividade para a Revista Vinicola.

Fotos: Divulgação/ Denis Dubourdieu Domaines

Comentar

Seu comentário
Digite seu nome