Otto lança nova identidade visual de sua linha de vinhos inspirada na cheia de novembro de 2023, primeira das cinco tragédias que alagaram a Adega Refinaria Terroirs do Brasil, loja que fechou as portas em junho deste ano

A Otto é uma vinícola jovem, mas que já nasce com um passado recheado de obstáculos e significados. Os sete rótulos que compõem o portfólio nasceram quase que por geração espontânea. O primeiro, o espumante Nature Sur Lie – na verdade pensado para ser um espumante Extra Brut planejado para comemorar os 10 anos da Adega Refinaria Terroirs do Brasil, em 2021 – foi apresentado sem muitas intenções dois anos antes, na festa que marcou os oito anos da empresa. “Fizemos um pequeno evento e servimos o espumante que estávamos testando para cerca de 40 pessoas”, conta André Valduga, um dos sócios da Otto e da Adega, junto com o primo Fabiano e a esposa deste, Gisele Valduga. O que aconteceu surpreendeu o trio, pois para eles o espumante ainda não estava pronto, mas “no dia seguinte já tinha gente querendo comprar o produto”, comemora Fabiano.

O nome Otto nasceu ao natural. “Veio em função dos oito anos, do símbolo do infinito, do italiano que falamos na região”, explica Gisele, “também é um palíndromo, uma palavra que pode ser lida igual nos dois sentidos, além de ter fácil pronúncia em várias línguas”, completa. “Na verdade, parece que este nome sempre esteve ali”, brinca.

Parece que sempre esteve presente, mas quando chegou, foi para ficar. O trio também contou com a sorte nessa apresentação informal: em 2019 não era tão comum espumante Sur Lie no mercado. “Ali nos demos conta que talvez não devêssemos buscar o Extra Brut: por que, se já tínhamos um produto diferente no mercado?”, relembra Fabiano.

Junto a isso a experiência de anos como lojistas atendendo todo o Brasil e da trajetória individual de cada sócio. O trio se deu conta que poderia ter um bom negócio em mãos, além das 12 mil garrafas iniciais do espumante – ainda há algumas, poucas, à venda. E que por sinal, em outubro, fecham inacreditáveis 102 meses em autólise.

Veio a Pandemia e os clientes seguiam querendo o produto: mãos à obra. Pensaram no estilo: “nosso vinho tinha que ter refrescância”, reforça Fabiano, “muito frescor e sem passagem por madeira, pensamos isso lá em 2019, hoje nem é mais tendência, é uma realidade”. Foram atrás do enólogo que topasse esse desafio e encontraram a parceria ideal com o uruguaio Alejandro Cardozo, na EBV. 

Cardozo indicou os produtores de uva – todos da Serra Gaúcha – e logo começaram a trabalhar no primeiro rótulo, o espumante Brut, lançado em 2021, mesmo ano que apresentaram o Sauvignon Blanc, “era um momento que as vinícolas apostavam muito nos tintos, então pensamos: por que não começar pelos brancos?”.

E os brancos brasileiros estão cada vez mais valorizados – assim como os espumantes, há um bom tempo no topo da cadeia. “Usamos a tropicalidade que o Brasil tem, o floral, o delicado, o frescor, depois fomos para os tintos”.

E começaram por um tinto leve. Em 2022 apresentaram o Pinot Noir, também em Rosé, na sequência o Viognier e o Cabernet Franc, que completa a linha de sete rótulos da Otto. 

A reformulação da marca 

Otto é jovem como marca e como negócio. Ao entrar no mercado, já foi percebida de uma maneira diferente. “Nossa linha sempre foi muito alegre, lúdica, colorida”, explica Gisele. Na ilustração a mandala, que é também uma imagem de topo de uma mesa com pessoas brindando; as garrafas, cada uma com uma cor característica na cera lacre, além do formato diferenciado da garrafa do Rosé de Pinot, que se destaca na prateleira. “Queríamos o diferente e alcançamos”, resume André. “Essa garrafa se tornou um objeto de desejo”. 

E agora, mais uma vez, a Otto persegue o inusitado apresentando sua nova identidade visual, calcada nas tragédias climáticas que vêm assolando o Rio Grande do Sul nos últimos anos – em 2024 fazendo inclusive com que um dos negócios dos sócios, a Adega Refinaria Terroirs do Brasil, localizada em um ponto estratégico na entrada do Vale dos Vinhedos, em Bento Gonçalves, fechasse suas portas.

“Foram muitos momentos desafiadores e tensos em nossos negócios e nossas vidas”, desabafa Fabiano, “o primeiro, em novembro de 2023, que inspirou nossa nova identidade, foi o mais violento deles”, recorda. Mas o que, à época parecia um fato isolado, se repetiu atingindo diretamente o negócio do trio pelo menos mais quatro vezes. “Com a mudança de identidade, buscamos expressar isso de algum modo com esse novo posicionamento, mais arrojado, mais desafiador, mais confiante”.

A nova cara traduz tudo isso por meio da aquarela, dos traços aquosos e da real impressão de umidade que o papel, que simula rasgos, deixa parecer que molhou, registra para a história um pouco do que foi o interminável mês de maio para os gaúchos. De uma certa forma, a Otto fez da tragédia, um recomeço.

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