Entrar na Inglenook, de Francis Ford Coppola, é como entrar num cenário de cinema. Esta propriedade vinícola, que também conta com um pequeno museu sobre os filmes e prêmios que conquistou, não é a única do conhecido diretor de cinema – Coppola também é o proprietário da Francis Ford Coppola Winery –, mas o que fez esse ícone da sétima arte se aventurar no universo do vinho? Uma história incrível, que nos foi contada pelo icônico Harold Francis, embaixador da Inglenook.

A Inglenook é uma das vinícolas mais antigas da Califórnia. Em 1879, Gustave Niebaum, um capitão de navio finlandês, amante dos bons vinhos de Bordeaux, escolheu no Vale de Napa o lugar para iniciar o seu sonho de produzir o seu próprio vinho. O capitão produziu vinhos até seu falecimento em 1908 e, durante o período de Lei Seca, entre as décadas de 20 e 30, fechou suas portas. Por muito pouco as vinhas não foram derrubadas nessa época, como em muitas propriedades vizinhas. Mas após esse período conturbado de proibições, a viúva tomou a frente da vinícola e deu continuidade ao sonho do marido. Contratou uma equipe competente e renovou a empresa no mercado local. Com a morte da viúva, o projeto teve tudo para desaparecer, mas seu sobrinho John Jr assumiu a Inglenook e conquistou diversos prêmios com seus elogiados vinhos, fazendo deles os nos melhores vinhos do país.

Mas no início da década de 60 o sonho começou a ruir e a Inglenook fechou as portas. Foi comprada em 1964 por Louis Petri, o maior produtor de vinhos da Califórnia na época. No entanto, o que era para ser transformado numa propriedade produtora de grandes vinhos, acabou se tornando o oposto. Petri usou a Inglenook para produzir vinhos a granel, aqueles baratos servidos em jarras. Mas foi quando Petri vendeu a Inglenook para a gigante Heublein que a história começou a mudar. Em 1975 o conglomerado colocou a venda parte da propriedade, e foi neste momento que Francis Ford Coppola entrou em ação!

Foi bem na época que o mestre da sétima arte estava em alta com o bem sucedido filme O Poderoso Chefão, em meados de 1970, que ele adquiriu grande parte dos vinhedos da Inglenook e começou a sua aventura no universo de Baco.  Mas apesar de Coppola adquirir as antigas terras, ele não tinha o direito de usar a famosa marca. E foi, com o passar dos anos, aprendendo a fazer vinhos. No começo os vinhos não eram grande coisa, mas foi tomando gosto pela arte.

A parte remanescente da Heublein foi vendida e vendida outras vezes, para outras empresas, peripécias que acabaram nas mãos da Canandaigua Wine Company, atualmente conhecida como Constellation Brands. Em 1995, Coppola finalmente conseguiu comprar o restante da propriedade, mas a marca “Inglenook” que era o que ele mais queria, ainda ficou de fora do pacote. E ele continuou produzindo… nessa época com o nome Niebaum-Coppola Estate Winery e em 2006, mudou para Rubicon Estate Winery.

Em 2008 os astros se alinharam a favor de Coppola e a The Wine Group comprou da Constellation Brands a marca Inglenook pela bagatela de U$ 135 milhões. Mas o sonho do sonhador não morreu e Coppola ainda sonhava em resgatar todo o glamour que um dia o capitão Niebaum sonhou para os seus vinhos. E em 2011 ele finalmente alcançou seu grande sonho. Comprou a marca do grupo e mudou a Rubicon para Inglenook. Quanto será que custou o sonho? Ninguém sabe ao certo. Ele disse para a imprensa que pagou pelo nome da marca mais do que o que pagou pela propriedade inteira.

Até aí a história já renderia um belo filme, mas tem mais! Um “grand finale”!

Na virada do milênio, no início dos anos 2000, foi encontrado por funcionários – ainda na época da Niebaum-Coppola – garrafas antigas e esquecidas do Inglenook. Depois de avaliações de especialistas, Coppola tinha em mãos uma raridade do início da história vinícola do Vale do Napa, desde 1933. Uma renomada empresa de leilão avaliou por cada garrafa U$ 15 mil, mas o autêntico Coppola ao invés de leiloá-las e garantir um bom valor por elas, fez… uma festa! Chamou um grupo muito especial de convidados, desde vizinhos da propriedade a jornalistas especializados e, beberam muito! Sete exemplares da raridade de Coppola que estavam perfeitos, de acordo com os afortunados participantes.

Uma história incrível, com um final mais que especial! E os vinhos? Dispensa comentários. Um deleite a cada taça.

Fotos: Percy Glaser/Revista Vinicola

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